Não resisto a transcrever do LIVRO de José Luís Peixoto, que ofereci à mãe com dedicatória do autor, este pequeno excerto: "... Maio. Afinal, era maio. O tempo distendia-se por fim. Uma breve teoria: há certos movimentos que apenas são possíveis depois do início da primavera. Durante a invernia, o corpo esquece-os, mingua, endurece como as árvores. Em maio, o corpo recorda esses movimentos, julga reaprendê-los e, ao fazê-lo, redescobre a sua verdadeira natureza. É por isso que se fala de renascer na primavera, é por isso que as pessoas se apaixonam e é por isso que crescem as plantas. Esses movimentos são simples, todas as pessoas os sabem fazer. Ao serem empreendidos, dão lugar a multidões desgovernadas de sequências que, no fim da sua acção. acendem o sol." Será que consegui levar-te um pouco de calor? Beijinho.
Pelos vistos, tanto o Pai como a Mãe estão "virados" para comentários de escritores. Portanto, o meu, também cá vai e que é um Poema conhecido de toda a gente (de uma certa idade): Não o vou escrever todo porque é grande, mas só os últimos versos, que eu acho lindo: Que quem já é pecador Sofra tormentos, enfim! Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor?! Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza, uma funda turbação entra em mim, fica em mim presa Cai neve na natureza - e cai no meu coração. Augusto Gil - Luar de Janeiro de 1909
3 comentários:
Não resisto a transcrever do LIVRO de José Luís Peixoto, que ofereci à mãe com dedicatória do autor, este pequeno excerto:
"... Maio. Afinal, era maio. O tempo distendia-se por fim. Uma breve teoria: há certos movimentos que apenas são possíveis depois do início da primavera. Durante a invernia, o corpo esquece-os, mingua, endurece como as árvores. Em maio, o corpo recorda esses movimentos, julga reaprendê-los e, ao fazê-lo, redescobre a sua verdadeira natureza. É por isso que se fala de renascer na primavera, é por isso que as pessoas se apaixonam e é por isso que crescem as plantas. Esses movimentos são simples, todas as pessoas os sabem fazer. Ao serem empreendidos, dão lugar a multidões desgovernadas de sequências que, no fim da sua acção. acendem o sol."
Será que consegui levar-te um pouco de calor?
Beijinho.
E eu envolta nessas doces palavras não resisto e daqui te envio Fernando Pessoa:
Sol nulo dos dias vãos,
cheios de lida e de calma
Aquece ao menos as mãos
A quem não entras na alma!
Que ao menos a mão, roçando
A mão que por ela passe,
com externo calor brando
O frio da alma disfarce!
Senhor, já que a dor é nossa
E a fraqueza que ela tem,
Dá-nos ao menos a força
De a não mostrar a ninguém!
Pelos vistos, tanto o Pai como a Mãe estão "virados" para comentários de escritores. Portanto, o meu, também cá vai e que é um Poema conhecido de toda a gente (de uma certa idade): Não o vou escrever todo porque é grande, mas só os últimos versos, que eu acho lindo:
Que quem já é pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa
Cai neve na natureza
- e cai no meu coração.
Augusto Gil - Luar de Janeiro de 1909
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